milhorey

Sunday, September 09, 2007

Uma pequena (grande) história de amor























Uma pequena (grande) história de amor

Vale a pena contá-la e começa assim: Há cerca de 10 anos, quando me encontrava livre de vários compromissos que tinha até ali (politica e trabalho), comecei a dedicar-me a uma outra tarefa que tanto tinha desejado e que nunca tinha tido oportunidade de conseguir: «aprender a pintar e aprender história de arte».
Percorri vários caminhos durante estes 10 anos, fazendo cursos, lendo muito, estudando, enfim, aprendendo, aprendendo como quem vai de passo a passo querendo entrar num mundo espectacular, feito de verdade e fantasia, de conhecimento e emoções, de revolta e paz, de amor e paixão.
Não é muito o tempo passado, mas dá para chegar à conclusão que a minha vida mudou, o meu pensamento mudou, o meu conhecimento mudou, enfim eu sou uma pessoa diferente.
Sentada sobre mim mesma, meditei como teria sido se, o que sei hoje sobre arte, o tivesse sabido com 10, 15 ou 20 anos!
Eis o que me propus fazer: Dar aos jovens, que o quisessem, este meu conhecimento, pequeno embora, através de encontros que todos chamámos de «aulas de desenho – aprender a olhar e a sentir a arte». Na aldeia do Carlos, Cercal-Soure, que é uma aldeia portuguesa com um nível de cultura espectacular: Com apenas 600 habitantes, lá existem: Uma Banda Filarmónica com escola de Música (Vários jovens já frequentam o Conservatório de Música em Coimbra), Um Rancho Folclórico federado, Um Grupo de Teatro, Duas Bandas Rock, Um Grupo de Música Tradicional Portuguesa e também guitarristas, Fadistas...
Faltava a Pintura e algum conhecimento sobre arte o que eu me propus acrescentar. Durante vários meses, fomo-nos reunindo e, além de ensinar o desenho à vista completamente estruturado, conversámos sobre o impressionismo, o expressionismo, o cubismo, o surrealismo e fomos consultando e lendo partes de bons livros de pintura para podermos abordar e aprender a conhecer a arte e a vida de Picasso, Salvador Dali, Van Gogh e outros. Não foi um conhecimento muito profundo, nem poderia ser, mas foi uma boa abordagem que começou a mexer com eles. A seguir às férias da Páscoa eu tive a primeira certeza disso: Um Jovem com pouco mais de 10 anos tinha visitado, em Madrid os Museus do Prado e Rainha Sofia e estava numa felicidade que contagiava a todos. Em Maio algumas das meninas já me diziam que estavam muito felizes por ali estarem e que as suas notas nas disciplinas de desenho tinham melhorado, enquanto uma me dizia que estava surpreendida com o que era capaz de fazer (olhando e desenhando, utilizando a luz e sombra). Falámos de construção e desconstrução. Falámos de «olhar e observar». Falámos de sentir a arte. Falámos de conhecer o artista através do seu trabalho ou de saber as suas angústias e alegrias como se, ao observarmos uma obra de arte, estivéssemos a ler um poema e através dele a conhecer o interior do seu autor.
Em Agosto, na festa da aldeia foi apresentado um trabalho completo pintado a óleo pela participante mais velha (21 anos) e um trabalho colectivo de todos, desenhado e pintado com total liberdade contando uma história.
Para minha total surpresa, na abertura da exposição, os jovens oferecem-me uma bonita rosa e, com ela, uma folha escrita que dizia assim:

«Cara Ercília
O pouco tempo que passámos juntos a aprender a pintar, desenhar, rir, discutir, ralhar, brincar e tudo mais foi uma experiência muito engraçada.
Queríamos agradecer-lhe por nos ter incentivado a dar o primeiro passo no mundo da pintura, e por nos ter ensinado tudo aquilo que nos ensinou.
Vamos ter saudades do seu sentido de humor e da sua personalidade indescritível.
Porque além de ser professora de pintura, foi nossa amiga e companheira.
Gostámos muito de a ter como professora e esperemos que nos continue a transmitir a sua sabedoria.
De todos um enorme beijo (do tamanho do mundo)»

(por baixo o nome de todos estava escrito
)

Quando acabei de ler estas linhas, levantei os meus olhos rasos de lágrimas e abraçámo-nos como se não quiséssemos que aquele momento se fosse…

ercília pinto ribeiro da silva

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