milhorey

Saturday, June 09, 2007

As tabernas ainda existem?

No Público de ontem o Professor Doutor Carlos Fiolhais traz-nos um artigo com o título “Em louvor das Tabernas”, cuja leitura aconselho.
Sobre estas “lojas” como na aldeia lhe chamavam, quero, também, trazer algumas memórias minhas.
Lembro-me do tempo do racionamento, durante a 2ª Guerra Mundial, e as consequências desta desgraça, nas décadas de 40 e 50 do século passado.
Nas aldeias as tabernas, além do vinho, vendiam, também, mercearia, tabacos, fazendas (como mostra o letreiro dum estabelecimento que ainda hoje existe) e nelas se faziam as trocas directas, sem dinheiro, ou seja, levavam-se ovos e trazia-se arroz, por exemplo.
Era nas tabernas que se faziam as tertúlias, se jogavam as cartas, se ouvia o rádio que trazia os folhetins dos Companheiros da Alegria de Igrejas Caeiro e Irene Velez, que se ouviam as transmissões directas das peregrinações a Fátima, se ouviam os relatos da guerra em Angola, as mensagens dos soldados pelo Natal, os relatos de futebol e do hóquei em patins.
Muitas vezes a bebida era em excesso e provocava cenas mais agressivas.
As tabernas ainda existem mas agora modernizadas já com zonas de mini – mercado.
Também sobre as tabernas existentes em Soure, transcrevo, com a devida vénia, uns versos da autoria de Florbela Nunes do seu livro “SOURE Retalhos de Lembranças e Saudades”

As tabernas nos anos 50

Dois amigos se cruzaram
Uma tarde na Avenida
E conversa entabularam
Sobre a pinga preferida

As tabernas conheciam
Que nem a palma da mão
E por isso discutiam
Sem nenhuma conclusão

-Ó pá, a tarde está fria
E p’rá a gente se aquecer
A mim bem me apetecia
Um bom copito beber


Os versos continuam descrevendo as tascas da terra: “Leiteiro” “Glória Simões” “Padeiro” “João Beijões” “João António” “Fidalgo” “Sabão” “Francês” “Manuel Vieira” “Teresa Marceneira” “Venezuela” “Zé Luís” “Magarefe” “Canducha” “Estêvão” “Regina” “Nazaré Morais” “Palmira” “Oliveira” “Coelho” “O Dinis na Estação” “O Abigail” etc. etc.
Hoje os tempos estão mudados e, em Soure, restam algumas tascas “O Sabão” “O Carrasqueira” “O Anastácio” e pouco mais.
São os sinais dos tempos…

Carlos Ribeiro da Silva


0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]



<< Home